segunda-feira, 18 de julho de 2011

Cotidiano

O lento despertar com todas as sonecas que se tem direito
O sono que persiste
O banho frio
O sono que se vai
Todos os pães com todas as vitamina de abacate de todos os cafés da manha
O ônibus sonolento (para aqueles que não tomaram banho)
A barca e seu rebanho diário que olha para baixo
A baía plácida refletindo o céu
Os pescadores em seus barcos-mosca a esperar, pacientemente
A barca como cama
Ela, que cruza com outra barca sem nem ao menos olhá-la nos olhos
A mesma que chega e esvazia-se, apresadamente
Todos os prédios forçando-nos a olhar pra cima e além
Todos os pedestres que olham para os pés e para dentro de seus aparelhos de mp3
Cada vendedor ambulante:
O amendoim com açúcar 3 por 1 real
O salgado + refresco que já foi 1 real
O cara que conserta saltos ao final da rua de paralelepípedos
A drogaria São Paulo (no centro do RIO)
Os bolivianos, todos esses bolivianos
Os mendigos ainda sonolentos, afinal, não tomaram banho
Todos os ternos sociais sem rosto
Todos os salto-altos com menos rosto ainda
Cada entrada de edifício marcando o fim da luz do sol
A espera pelo elevador
A espera dentro do elevador
A espera dentro do escritório:
Pela hora do almoço,
Pela hora de ir e ver tudo denovo


quinta-feira, 14 de julho de 2011

fico porque preciso, mas espero porque te amo

vai, querida
vai e vê tudo o que tiver ao alcance da tua imaginação
tuas narinas à respirar novidades distintas
e toda a beleza que cabe nos olhos

vai, querida
vai e aprende com cada metro da estrada
reparas no que de mais belo tem os que estão à tua volta
e, mais ainda, repara no que de mais belo tens em ti

vai, querida
vai e me carregas atrás das pálpebras aonde fores
lembra de mim com um sorriso no rosto
e depois volta pra me contar tuas histórias

terça-feira, 12 de julho de 2011

os cabelos já foram plantados
e o foram sem qualquer tipo de ortogonalidade
foi assim: à medida que caíam, ficavam
então, acho que deveria falar que os fios se plantaram, uma vez que foi a vontade deles, dos fios, que produziu a semeadura.
eles, tal qual pequenas sementes, podem nao ser notados quando caem mas, à medida que crescem, parecem adquirir vida e importância.
E por isso, por essa característica tão marcante, só pude ver muitos dos cabelos-sementes depois de virarem cabelos-mudas ou até cabelos-árvores.
E os encaro todos os dias, eles tão por ai: pelas esquinas que andamos com meu braço enrolado à parte baixa das suas costas, tão nos álbuns dos Novos Baianos, na lapa, no centro, em santa, mas, principalmente, tão por trás das minhas pálpebras....lá no pacífico.
Não sei, desconfio que tenha algo a ver com o clima do pacífico, mas o fato é que os cabelos se deram muito bem por lá e, lá, produziram uma verdadeira floresta. Dessas densas....Floresta Equatorial Úmida Capilar: é assim que a chamam no pacífico

sexta-feira, 8 de julho de 2011

cáláacolá

ela lá, a outra, acolá
e eu, cá, sem saber se lá, ou se acolá

vem

Vem, meu bem,
vem, e vamos
vem, te prepara, mas nao muito, e vem
os discos, os livros e teu vestido de algodão branco, vem com eles
vem, também, com o tempo
trás ele debaixo do braço, e vem
com todos esses caracóis que te enchem a cabeça, vem
e vamos

domingo, 1 de agosto de 2010

Acabei de descobrir, a bordo de um DELL inspiron, que a DELL emprega mão de obra semi-escrava na china. parece que no último mês, 30 funcionários tentaram se matar (nem quis saber quantos obtiveram sucesso).
A parte que me deixou perplexo, além dos chineses em depressão, foi a forma dual como isso se apresentou para mim. É como se o escravizador tivesse me contado que escraviza. A internet (ou quem a torna possível para mim), por seu caráter anárquico, pode atingir um nível de autofagia meio louco. A troca livre de informação, por ser livre, deve permitir a crítica à troca livre de informações.
A tarefa de perceber o momento histórico em que se vive deve ser deixada ou para grandes pensadores ou para loucos, por isso, prefiro me abster de qualquer análise sobre o papel da internet e as possíveis mudanças nas formas de vida que ela pode nos trazer.
Mas sinto que algo bom está a caminho.