Falou naquele tom meio emboladamente apressado de quem quer se mostrar prestativo. Aquele em que as palavras sobem umas nas outras a fim de ver o final do túnel da boca.
"Paga duas aqui"
Era o meio da noite de uma fria quinta feira naquela região universitária da cidade.
O ônibus para andar três ou quatro pontos, como descobriria logo depois, era quase um taxi particular.....um agrado. Acho q por isso aquele tom "pagga dusas aaquqi"
Assim q terminou a frase, ela, a outra, se apressou no monótono tom de quem já esperava a gentileza
"não deix......"
foi interrompida por aquele tom, o primeiro, que, denovo, embolava as palavras no ar
"sem problemas, eu pago"
Era tudo o que ela queria: uma confirmação de que ela, a outra, tomou conhecimento da gentileza.
Mas enquanto virava para dar aquela olhada de quem faz uma gentileza no meio da noite de uma fria quinta feira naquela região universitária da cidade, viu o que não queria ver:
O cartão azul-cinza de transporte bailando no ar.
Era ela, a outra, mostrando que não precisava MESMO pagar. Ela tinha uma maneira muito melhor de fazer isso.
Teve que aceitar e pagar só uma.
Era mais uma vez ela, a tecnologia, a atrapalhar ela, a gentileza.
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